Nesta sexta-feira (13) foi comemorado o Dia Mundial do Livro. Para marcar a data, a Secretaria de Município da Educação promoveu a premiação do I Concurso de Crônicas para professores da Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino (RME). O evento aconteceu na sede do Clube Dores, durante o encerramento da II Salão de Práticas Educativas. O Concurso de Crônicas faz parte das ações do Projeto Leitura no Coração, que tem por objetivo incentivar o registro da prática e o protagonismo dos professores de Educação Infantil do Município de Santa Maria, através da produção de crônicas.
O primeiro lugar ficou com a crônica “Eu Faço de Conta que Eu Sou Tu”, de autoria da professora Andréia Aparecida Liberali Schorn, da Escola Municipal de Educação Infantil, CAIC Luizinho de Grande. Já o segundo lugar ficou com a professora Giana Friedrich Gomes da Silva, também da EMEI Luizinho De Grandi, com o título “Sim, eu Amei um Furação” (leia abaixo). As vencedoras receberam como prêmios troféu, livros infantis e brinquedos. Os brinquedos foram oferecidos pelo Programa Municipal de Educação Fiscal.
Conheça as crônicas premiadas. Leia abaixo:
1º Lugar:
EMEI Núcleo Infantil – CAIC Luizinho de Grandi
Prof. Andréia Aparecida Liberali Schorn
Eu Faço de Conta que Sou Tu
Eu sou uma professora de bebês e os dias em um berçário são movidos por afeto e encantamento. Nas minhas vivências há tantas histórias para contar, essa aconteceu em uma turma de Berçário II.
Giovana, um bebê de dois anos e meio, chegada na escola no turno da tarde, quando ela entrava na nossa sala muitos de seus coleguinhas do turno da manhã estavam dormindo, eu a recebia com carinho e a convidava para sentar no meu colo e me ajudar com as agendas das crianças onde eu começaria a registrar a rotina dos bebês.
Giovana, gostava de me auxiliar entregando uma a uma em minhas mãos e me perguntando a quem pertencia esta ou aquela e o eu estava escrevendo nelas. Na medida em que os bebês fossem despertando do seu cochilo Giovana me pedia para ir lhes alcançando as mamadeiras no começo eu fazia isso com ela, no entanto, em pouco tempo, Giovana sabia qual era a mamadeira de cada um e como eles gostavam de recebê-la.
Giovana dizia frases carinhosas para os amigos: “Este mamazinho é pra ti meu Thomaz”... “mama tudo Victória, é pra crescer”. Passei a compreender as atitudes solidárias dela com sensibilidade e cada dia mais a incentivava a ser minha ajudante. Porém, não havia me dado conta do alcance de suas ações.
Giovana conhecia cada bebê da sala pelo nome e era conhecida por eles como uma pessoa que os ajudava. Então eles a seguiam e correspondiam ao que ela pedia.
Ela solicitava que eles sentassem para ouvir histórias e nesses momentos agia como uma professora, organizava-os em formato de roda, abria o livro de frente para eles e ia contando pelas imagens o que via. Durante a tarde, às vezes, ela ainda cantava com os amigos uma canção de sua preferência e depois perguntava que outra música eles desejavam cantarolar com ela sempre batendo palminhas a cada uma das cantigas escolhidas. Se ela encontrava alguém sem calçados, articulava: “não pode tirar, tu quer ficar dodói?” Agorinha eu vou por esse sapato em ti! Ela conhecia também os objetos pessoais dos amigos, reconhecia cada bico, “cheiro” e brinquedo preferido. Se chorassem por algum motivo ela corria buscar esses objetos com intuito de lhes acalmar e também pedia franzindo a testa para que não brigassem e nem se mordessem, “é muito feio enfatiza ela!
Meu olhar de professora começou a ver naquela menina o fascínio de seus jogos simbólicos e ao terminar de dar banho em um bebê da sala num fim de tarde a convidei para sentar em meu colo e perguntei:
- Giovana por que tu cuidas dos coleguinhas assim?
Ao mesmo tempo em que fui relembrando ela do que fazia por eles cotidianamente. Ela me olhou nos olhos com um sorriso que iluminou suas bochechas cor de rosa e respondeu:
- “Eu faço de conta que sou tu!”
Admito que ganhei meu dia e que meu coração se encheu de alegria e emoção naquele instante.
Aquele bebê tão inteligente e querido me imitava e em suas e em suas brincadeiras eu pude me reconhecer uma professora que conversava olhando nos olhos das crianças, brincava com elas e as atendia amorosamente; uma professora que cantava com entusiasmo, contava histórias e se preocupava com o bem estar de todos, Ser professora de bebês é ter um olhar sensível para cada criança sabendo que elas têm um mundo inteiro para descobrir e uma história para construir.
- Giovana me ajudou a conhecer muito sobre a arte da docência na Educação Infantil naquele ano e percebi por meio dela o quanto é admirável ser professora de crianças pequenas, nosso trabalho é desenvolver integralmente a personalidade humana e fazer isso com tanto afeto e significado a ponto de ser parte do faz de conta dos bebês, é sem dúvida, um presente para a vida inteira.
2º Lugar:
EMEI Luizinho de Grandi
Prof. Giana Friedrich Gomes da Silva
Sim, Eu Amei um Furacão
Como definir um furacão? Seguindo o sentido literal, furacão é um vento de extrema potência, que gira e espalha sua energia por onde passa.
O furacão decide seu destino, por onde ele deseja passar, e se os estudiosos decidem calcular a provável rota que seguirá o furacão, para planejar, ele muda tudo, ele decide diferente, pois é ele quem sabe o rumo que quer seguir, ele é dono do seu próprio nariz de vento.
Eu conheci um furacão em uma certa sala do Pré B. Na verdade, se furacão tivesse gênero, este seria do feminino, era uma “Furacoa”, se me permitem brincar com a palavra. Um furacão de vento, pois por onde andava espalhava a sua força, sempre decidida, forte, com opiniões formadas, como todo furacão que se preste. Se a hora é de brincar, livre, fazer o que der na telha, todos os ventinhos e brisas perguntam ao Furacão o que poderiam fazer, que novas tempestades poderiam criar...
Se a professora pergunta, lê histórias, investiga de que eles gostam, para pensar por onde andar com seus ventinhos, o Furacão toma conta, ele sabe o que quer, ele sabe o que pensa, por que Furacão é de opinião.
O Furacão e seus amigos viram um balão cortar o céu da escola, baixar a sua rota, e seus ocupantes deram o clássico “tchauzinho”, típico de quem está dentro de um balão e se depara com olhinhos tão curiosos...Pronto: bastou isso para o nosso Furacão se maravilhar e liderar sua turminha para saber como o balão voou?
Ele nem tem asas!!! Como ele sabe aonde quer ir? Ele nem tem direção!!! Por que ele tem que ser colorido? Como ele não cai em cima da gente? Eu posso andar nele?
O Furacão quer respostas! Mas nunca dessas prontas, que se encontram nos livros...
Ele gosta de debater, de pensar se é assim mesmo ou se estão tentando enrolar o Furacão... Que ilusão de quem tentar enrolar um Furacão... O que ele mais sabe fazer é girar e enrolar!
Mas não deixemos passar o fato de que este Furacão, este em especial, era um Furacão do tipo rosa, do tipo menina...Sim, era um Furacão que amava o rosa, o se maquiar, o se enfeitar, descobrir qual de suas brisas amiguinhas tinha trazido batom e sombra e certamente que ia lhe emprestar! Por que sim, todos amavam o Furacão!
Puxa, mas depois de tanta maquiagem era a hora de ir para o pátio e brincar na terra! Não tem galho, o Furacão adora se enterrar na areia. Adora quando a professora deixa brincar na torneira! Encher os baldinhos com água e levar para a areia. Adora massinhas e argila, os bons furacões se melecam bastante!
Mas sem sombra de dúvida, o Furacão ama as tintas! Tem preferência pelas cores fortes, vibrantes! Tudo muito vivo, muito aparente! Os furacões não nasceram para serem subjetivos! Os furacões vêm para fazerem a diferença, para somar, para dominar. Até hoje a professora se lembra do banho de tinta preta que tomou, junto com o Furacão, pois as duas tentavam arduamente abrir um pote grande que estava com a tampa emperrada e, claro, o Furacão conseguiu abrir!
Tem coisas que irritam os furacões, todos parecem bem bravos, por vezes...O quê? Você não vai emprestar o brinquedo para ela? É a vez desta amiga de brincar, pode dando, vou contar para a profe! O quê? Você está empurrando na fila? Vou te empurrar também! Profeeee!!! Cada um tem a sua vez no balanço! (Acho que o Furacão é do tipo justiceiro!)
Todo furacão, por mais forte que seja, tem seus momentos de baixa intensidade, onde seus ventos se acalmam... Onde ele vai perdendo força, e se tornando uma chuva mais forte. Os furacões são assim, é da natureza deles...O Furacão gosta de colo, de mexer no seu cabelo e dizer no seu ouvido que acha você linda...
Por vezes ele chora, conta que brigou com a mana, conta que não queria vir na aula hoje...O Furacão cabe no seu colo , ele cabe no seu coração e sim, ele sempre estará lá, num cantinho só seu...
Todos os furacões não ficam para sempre num só lugar, eles migram de cidade em cidade, até de países eles trocam, por vezes...Nosso Furacão já migrou para outra escola, era hora de crescer, de alçar novos vôos, mas por vezes, quando menos esperamos, ele aparece “só para dar um beijo”, e nos enche de alegria, por que este Furacão espalha luz e magia!!
Texto: Jornalista Vera Jacques (MTb 5.972)
Fotos: Smed/Divulgação